segunda-feira, 10 de maio de 2010

Carreira e Profissões: Carreira na Área Tecnólogica

Tecnólogia

Se você é adolescente e ainda está pensando em qual carreira profissional seguir; ou, então, se você já tem alguma experiência ou formação anterior e quer dar uma virada profissional através dos estudos, já deve ter feito a si mesmo a seguinte pergunta: qual curso ou faculdade fazer? Bem, quando se tenta encontrar a resposta, a maior parte das pessoas acaba vislumbrando apenas uma única modalidade de ensino: o bacharelado. A ordem natural do caminho rumo à formação educacional e profissional de muitos - depois da educação básica (que inclui a educação infantil, o ensino fundamental e médio) - geralmente culmina no ensino superior e, eventualmente, prossegue em uma pós-graduação. Mas além do bacharelado, existe outra modalidade de ensino superior que também pode ser bastante interessante e recompensadora. Muitos desconhecem que podem optar por um curso superior de tecnologia, apesar de existirem cursos de excelente qualidade no Brasil, de haver grande demanda por vagas com este perfil de formação e até salários vantajosos.

A formação profissional também pode acontecer durante o próprio ensino médio, através dos cursos técnicos. E para aqueles que querem partir para uma preparação profissionalizante um pouco mais cedo, a recompensa pode ser a própria atuação na área escolhida, incluindo-se a facilidade de se colocar no mercado de trabalho. É claro que sendo uma formação de ensino médio, não há nenhum impedimento para que o técnico prossiga em um curso superior da sua área ou mesmo de outra de seu interesse.



Apesar de terem um campo bem promissor atualmente, ainda reside certo preconceito sobre as carreiras técnicas e tecnológicas; como se fossem carreiras "menores". Neste especial, veremos as características de cada modalidade, as origens desse preconceito e por que não se deve pensar mais dessa forma.


As modalidades de ensino no Brasil

Graduação, bacharelado, ensino superior, curso superior de tecnologia, ensino técnico... Tantos nomes e modalidades! Mas o que eles significam e quais são as suas diferenças?

GRADUAÇÃO - é a primeira etapa do ensino superior, que pode prosseguir com a pós-graduação stricto sensu (mestrado e/ou doutorado) ou lato sensu (especialização). Se alguém está fazendo um curso em uma faculdade ou universidade, então ele é um graduando. Geralmente, imagina-se que uma universidade só se dedique a formar profissionais de nível superior. Mas de forma geral, uma universidade (principalmente uma pública) precisa produzir pesquisa (para o avanço do conhecimento científico e tecnológico) e oferecer extensão (auxílio à comunidade externa à ela e melhorias para sociedade em geral). Bacharelado, licenciatura e graduação tecnológica são modalidades de graduação e após a sua conclusão, o indivíduo pode prosseguir com a pós-graduação.

BACHARELADO
- o curso de graduação tem duração de 4 a 5 anos em média, e confere ao aluno o título de bacharel. A formação é voltada para o mercado do trabalho e visa tornar o aluno apto a atuar em uma área.

LICENCIATURA
- é o curso de formação de professores em determinada área. Tem duração média de 3 a 4,5 anos e dá ao aluno o título de licenciado.

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA (GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA) - oferece formação profissional voltada para uma área bastante específica, desenvolvendo determinadas habilidades e competências para rápida inserção no mercado de trabalho. Quem obtém essa formação é chamado de tecnólogo. Os cursos duram, em média, de 2 a 3 anos. A diferença básica em relação ao bacharelado é o seu caráter mais compacto e prático, sendo que aquele acaba sendo mais generalista. E quando se fala em cursos tecnólogos, não significa que abrangem somente cursos voltados para a área de tecnologia. Existem cursos, por exemplo, na área de gestão e negócios e área cultural (produção audiovisual, design, etc.).

ENSINO TÉCNICO (ENSINO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO) - tem o propósito de capacitar os alunos, proporcionando conhecimentos teóricos e práticos das diversas atividades do setor produtivo. É uma modalidade do ensino médio. Quem se forma no ensino técnico recebe o título de técnico.


Sobram vagas para técnicos e tecnólogos

Por ano, no Brasil, formam-se cerca de 9 milhões de pessoas no ensino médio, tendo a maioria passado pela modalidade tradicional. Embora tenha havido um crescimento nos últimos anos na procura por cursos técnicos, as estatísticas ainda estão bem aquém em relação a outros países. Enquanto a média brasileira de matrículas no ensino técnico tem sido de 7% (no Estado de São Paulo chega-se a 12%), em países desenvolvidos este número consegue ultrapassar os 30% (37% na França, 38% na Espanha e 33% no Reino Unido).

Em relação aos cursos tecnológicos, a disparidade também se repete. Em uma pesquisa realizada pela Unicamp, entre 1995 e 2004, viu-se que do total de alunos graduados no Chile, 23% eram tecnólogos; na Coreia do Sul o número subia para 37% e, no Brasil, somente 2% representavam os tecnólogos. Os anos mais recentes também mostram que o número de cursos tecnológicos oferecidos no Brasil aumentou (apenas no período de 2007 a 2008, o crescimento foi de 17,9%), assim como o número de ingressos. Mas ainda não se compara, nem de longe, à procura aos cursos de bacharelado. No Censo da Educação Superior de 2008, realizado pelo Ministério da Educação através do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), verificou-se que o número de matrículas, em 2008, nos cursos de graduação tecnológica foi da ordem de 8%, ao passo que o bacharelado teve quase 70% do total de matrículas nos cursos de graduação presencial no Brasil. O restante dos números ficou com as modalidades de licenciatura e bacharelado com licenciatura.

Acesse o resumo do Censo da Educação Superior 2008 para mais informações.

O fato é que se tanta gente procura pelos cursos de bacharelado (estimulados também pela crescente oferta de cursos nos últimos anos e pelos programas governamentais de bolsas que facilitam o ingresso nas instituições particulares), o mercado acaba por ficar saturado em certas áreas - sobretudo as consagradas - e a dificuldade em se empregar imediatamente também aumenta. Ao passo que o mercado mostra sinais de que não consegue absorver tantos bacharéis, as vagas para técnicos e tecnólogos (principalmente estes) estão à espera de pessoas qualificadas. As confederações do comércio e da indústria, por exemplo, estimam que o mercado brasileiro ainda carece de cerca de 200 mil profissionais de nível técnico. Em todas as etapas dos processos produtivos, a presença de técnicos e tecnólogos é muito importante. O que seria dos engenheiros e dos médicos sem os técnicos de suas áreas?

A formação específica, e por vezes inovadora dos cursos tecnológicos, tem atendido a áreas que nem existiam há algum tempo, como é o caso da agroecologia. Atualmente, há uma grande expectativa de um futuro promissor para os tecnólogos em petróleo e gás, por conta da descoberta das reservas da camada pré-sal em águas brasileiras. De forma geral, os tecnólogos não têm encontrado dificuldade de ingressar no mercado de trabalho.

O mesmo panorama tem se mostrado para os técnicos. Em uma pesquisa feita pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), vinculada ao MEC, com alunos formados pelos cursos técnicos da rede federal, entre 2003 e 2007, constatou-se que 72% dos ex-alunos estão ativos no mercado (65% dentro da área em que estudaram). Além disso, de cada 10 alunos, 6 têm salário na média da categoria. No Estado de São Paulo também houve avaliação semelhante. Segundo o Centro Paula Souza (autarquia do Governo do Estado de São Paulo, à qual as Faculdades de Tecnologia - FATECs e Escolas Técnicas - ETECs são subordinadas), 85,8% dos formados pelas escolas técnicas dessa instituição estão formalmente trabalhando em suas áreas.


À sombra do preconceito

Se as pessoas que optam pela carreira técnica ou tecnológica conseguem facilmente emprego e podem perfeitamente continuar seus estudos no ensino superior (graduação e pós-graduação), prestar concursos, entre outras coisas, por que a procura é tão menor em relação aos cursos de bacharelado? É claro que um técnico, com formação de nível médio, terá um salário menor que um egresso do ensino superior, mas pode-se entender que fazer um curso técnico é um investimento a longo prazo que pode frutificar numa carreira mais promissora, pois o conhecimento técnico e a experiência profissional antecipada representam uma vantagem competitiva.

Infelizmente, não são somente o desconhecimento das vantagens de mercado ou um suposto salário inferior que distanciam a maior parte da população dos cursos técnicos ou tecnológicos, mas também o preconceito. Para muitos, o diploma de um curso de bacharelado tem um status superior. Parece estranho, mas há quem acredite que um curso universitário mediano ou ruim ainda é preferível ao melhor curso técnico. Esse preconceito não é de hoje e vem de um ranço da nossa história, quando as famílias ricas e aristocratas mandavam os filhos para a universidade, de preferência na Europa, geralmente para fazer Medicina ou Direito. "Pegar no pesado", fazer um trabalho braçal e aprender um ofício prático não eram coisas para gente refinada, a quem estava reservada uma educação mais humanista teórica.

O início da educação profissional no Brasil deu-se em 1909, quando o presidente Nilo Peçanha criou as Escolas de Aprendizes Artífices, através de decreto, por razões que ficam claras logo no começo do texto:

    "Considerando: que o aumento constante da população das cidades exige que se facilite às classes proletárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentes da luta pela existência: que para isso se torna necessário, não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual, como fazê-los adquirir hábitos de trabalho profícuo, que os afastará da ociosidade ignorante, escola do vício e do crime; que é um dos primeiros deveres do Governo da República formar cidadões uteis à Nação".

No site do MEC você tem acesso ao texto integral (inclusive com a ortografia da época) do Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909 que cria as primeiras escolas voltadas para o ensino profissional primário e gratuito.

No restante do mundo, o ensino técnico e profissional havia surgido no século 19, no auge da segunda revolução industrial, a partir da necessidade de formar mão-de-obra para as fábricas e para toda a cadeia produtiva da indústria que nascia. Apesar de, mesmo em 1909, não haver indústria formada no Brasil, o ensino técnico foi fundado com intenções quase filantrópicas, oferecendo uma possibilidade de melhoria de vida para os jovens das camadas sociais pobres e visando evitar situações de risco (vícios e crimes). Foi com a Reforma Capanema (1931-1932) que realmente apareceu uma proposta efetiva para a formação de mão-de-obra qualificada para a produção. Com as leis orgânicas do ensino, eram criadas as escolas técnicas e a divisão do nível secundário de ensino em dois ciclos. O acesso ao ensino superior, para os concluintes dos cursos técnicos, no entanto, somente seria regulamentado pela Lei nº 1.821, de 12 de março de 1953 (“Lei de Equivalência”), regulamentada, por sua vez, pelo Decreto nº 34.330, de 21 de outubro de 1953.

Os cursos tecnólogos tiveram a sua semente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1961, que preconizava a organização de escolas ou cursos experimentais com currículo, método e avaliação mais flexíveis. Na rabeira da legislação, surgiram cursos inicialmente na área da engenharia, que buscavam a formação de um conhecimento mais prático. Em 1969, era criado em São Paulo o Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo (que mais tarde passou a se chamar Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza), onde foram instalados cursos para a formação de tecnólogos.

Ao conhecermos a história da educação brasileira, percebemos a razão do preconceito em relação aos cursos profissionalizantes e da ideia superficial de que somente um bacharelado é um passaporte para outro status social. Ironicamente, com a grande oferta de cursos superiores hoje em dia, tem-se a impressão de que o discurso para chamar a atenção dos candidatos a alunos está voltado para a entrada mais facilitada no mercado de trabalho. Muitos cursos de bacharelado se "travestem" de cursos tecnólogos, pois são mais curtos e pretensamente mais práticos. Porém, eles são apenas bacharelados mais curtos, e continuam tendo características mais generalistas (apenas cortando algumas disciplinas).


Ficou interessado? Saiba como fazer uma escolha certa

Na hora de escolher o curso ideal, pesquise bastante. E isso não se refere somente ao valor da mensalidade, mas principalmente à grade curricular e ao reconhecimento deste curso. Verifique se o curso realmente atende às suas necessidades e se ele tem boa avaliação por parte do MEC.

O prestígio da instituição onde você pretende estudar não é garantia de emprego, mas se os professores estiverem bem qualificados e se o ensino for de qualidade, maiores serão as chances de encontrar boas oportunidades de trabalho. A boa notícia é que no Brasil existem excelentes escolas e faculdades públicas de educação técnica e profissionalizante. No âmbito federal existem os Centros de Educação Tecnológica (CEFETs) e no Estado e São Paulo as FATECs e as ETECs, mantidas pelo Centro Paula Souza.

Confira algumas dicas que poderão ajudá-lo a certificar-se de sua escolha:

* Verifique se a instituição está cadastrada no MEC;
* Se for uma faculdade, o curso deverá ter sido autorizado pelo MEC. Já um centro universitário ou universidade têm autonomia para a implantação de curso;
* Visitar a página eletrônica da instituição é um bom começo para buscar e conferir informações;
* Desconfie da instituição quando a propaganda for baseada na curta duração do curso;
* Visite a escola, especialmente o local em que seu curso será oferecido, conferindo a qualidade da biblioteca, laboratórios, salas de aula e demais espaços. As instituições de maior destaque promovem visitas orientadas, com palestras e exposição sobre escolha de carreiras;
* Converse com alunos do curso em que está interessado.

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